sábado, 22 de junho de 2013

O POVO UNIDO EM TORNO DE UM IDEAL...


  • Maristela Guimarães Cavall
     REFLEXÕES SOBRE A CRISE DO SUJEITO NA NOSSA SOCIEDADE
    A partir do momento que o homem moderno se emancipa e se propõe a salvar o mundo através do uso da razão, esquece-se de sua própria humanidade, torna-se um técnico incapaz de pensar, pois pensamento não é raciocínio, ou seja, usar a razão não significa pensar.
    No contexto da modernidade, em decorrência da perda de capacidade de pensar, o homem perde a consciência, que é a capacidade que só ele tem de conhecer valores e mandamentos morais e aplicá-los nas mais diferentes situações da vida, julgando, aprovando ou reprovando os próprios atos e daqueles que estão a sua volta. Perde a sua singularidade e com ela, a capacidade de indeterminar os acontecimentos, de criar, de trazer o novo para o mundo, perde a sua liberdade, pois aceita as imposições que se apresentam como solução verdadeira às questões do cotidiano, da vida em sociedade.
    A consciência desse homem passa a funcionar segundo o que a sociedade lhe determina como correto, como justo. Não há capacidade de crítica, e se houver, será reprimida pela ausência de pluralidade, do debate que leva à politização.
    Essa ausência de debate, de individualidade, de capacidade de pensar e formar uma opinião particular, crítica, através da reflexão, da organização de ideias próprias e adquiridas do meio em que se vive, retira o indivíduo da história, ou seja, a história acontece independentemente do homem, pois com a perda da capacidade de formar a própria opinião a partir de um conjunto de ideias, valorações e atitudes individuais e coletivas, o homem passa a ser incapaz de questionar e de dizer não.
    Há uma aceitação de tudo, sem que haja uma análise acerca do que é verdadeiramente bom ou ruim, certo ou errado. Deixa de existir ou simplesmente passa-se a ignorar os limites que a consciência individual impõe a cada um dos homens, e com isto, lhe são retiradas a indeterminação e a singularidade, suas principais características, passando a ser substituível, desnecessário.
    O indivíduo transforma-se simplesmente numa peça da engrenagem social, e passa a não ser respeitado enquanto homem, na medida em que se impõe o poder pela violência.
    Este poder deve ser entendido como qualquer espécie de poder, como uma interligação de relacionamentos políticos, como o poder que está disseminado na sociedade de sujeitos e agentes de poder, que são os homens em suas mais diferentes posições que ocupam. E, a violência deve ser entendida não só do ponto de vista físico, mas também mental, emocional, que atinge o homem em sua essência, na sua capacidade de reação aos domínios da contemporaneidade, na medida que a ele são impostas normas de conduta social.
    O que vemos hoje é a dominação das massas através dos meios de comunicação que vendem a imagem do homem livre, feliz, porque é livre para consumir tudo que o mercado lhe oferece. É no espaço de troca onde os homens carregam mercadorias que ilusoriamente se sentem livres e iguais, pois o dinheiro os torna iguais.
    O problema é que nesse espaço de troca os homens simplesmente carregam, ou seja, a mercadoria possui um valor em si, independente de quem a carrega e o indivíduo passa a valer aquilo que tem para dar. Em outras palavras, o homem vale pelo que tem e não pelo que é. O que ocorre é o que chamamos de coisificação e reificação, ou seja, o homem vira mercadoria e a mercadoria ganha vida. É o pensar o homem como meio e a mercadoria como fim.
    Na verdade não somos livres, mas sim escravos do consumismo que nos é imposto e não reagimos porque não queremos reagir, porque gostamos de ser considerados iguais, porque não queremos ficar de fora da sociedade de consumo. Aquele que se atreve a ser diferente é vitima de zombaria, de exclusão e tem seu espaço reservado em ilhas para os “anormais”.
    Esse homem considerado normal é sujeitado às mais diversas forças, se auto-condiciona pela imposição das mais diferentes formas de poder que agem sobre ele sem que sequer perceba que está sofrendo um controle interno e externo. É um sujeito que não se constrói e sim é construído. É normalizado, é condicionado, docilizado. Recebe as determinações exteriores como se fossem dele mesmo e não para para pensar as diversas formas de poder a que se submete. Na verdade reflete um sujeito manso, que foi e está em constante processo de adestramento através dos domínios que agem sobre ele.
    Tais domínios se refletem hoje nas democracias contemporâneas que carregam uma característica dos regimes totalitários: a despolitização, refletida na falta de debate, de convívio que propicia as discussões onde o homem manifesta sua individualidade de opinião, sua singularidade, sua capacidade de criticar, criar e reagir.
    Aquele que questiona, que age por si é considerado anormal e sendo assim é posto à margem da sociedade, isolado em ambientes que promovem a sanção normalizadora.
    Na realidade, as democracias contemporâneas são o palco da mídia, onde políticas públicas se organizam e se desenvolvem segundo as leis de mercado, as economias, em detrimento dos Direitos Humanos, sob pena de os países não se desenvolverem economicamente. Contudo, só há direitos humanos quando reconhecemos esses direitos, ou seja, só há direitos humanos se existe uma comunidade disposta a viver sob aquele direito, se a decisão for política, se for debatida pelos homens em conjunto.
    Valores como a igualdade dependem da aceitação da comunidade onde os homens vivem, da “valoração que é dada. Mas, como valorar algo se não se tem capacidade de pensar e raciocinar sobre isto?
    Tanto isso é verdade, que um dos “grandes negócios” hoje é a pobreza, que virou mercadoria na sociedade de consumo, pois a febre das políticas humanitárias, do assistencialismo que se desenrola à nossa volta transforma os indivíduos carentes em apenas números dentro de uma estatística. Há um surto de ações sociais que na verdade nada mais são do que uma boa dieta na consciência, principalmente da classe média que quer se dar ao luxo de passar ao mundo a imagem de “responsabilidade social”, se dar ao luxo de mostrar que tem princípios cedendo um pouco do que tem, ainda que para isso se alimente da miséria alheia.
    A crise do sujeito em nossa sociedade acontece porque aquele sujeito que se propunha salvar o mundo transformou-se num objeto inanimado, que não pensa, não reage, não questiona o mundo à sua volta, pois apesar de o homem ter desenvolvido a técnica, não desenvolveu sua humanidade. Ao invés de se transformar em homem livre, tudo que conseguiu foi aprisionar-se em valores inúteis e aceitar com docilidade tudo que lhe é imposto, construindo assim um mundo onde só os valores tidos como corretos pela sociedade é válido, é completo, total.

    Quando saímos do mundo que definimos como o correto, o certo, o justo, enfim como uma totalidade que julgamos ser uma vida digna onde podemos consumir tudo e de tudo e encontramos o outro fora dessa totalidade, naquilo que consideramos uma vida nua, (AGAMBEM), onde é permitido matar o outro, o homo sacer, aquele que comete crime tão grave que deve ser extirpado do convívio não só fisicamente mas também ideologicamente (matar suas ideias, seu pensar, seu questionar), e sequer pode-se expiá-lo num processo normal, posto que poluído está o seu ser, ele passa a ser o NÃO SER. Neste espaço onde o outro se encontra se não há possibilidade de consumo, esse encontro representa a negação do outro, do diferente que para nós é um nada, pois só nos interessa na medida em que possa fazer parte do nosso projeto.
    Entretanto, ao se negar o outro, surge a política de dominação. Não se respeita o outro, seus valores enquanto cultura e tudo que se objetiva é trazê-lo para dentro daquilo que definimos como totalidade, para que possa também consumir, e com isso sejam estimuladas as fábricas da sociedade. Consumir tudo que a sociedade produz, é a ordem do dia, acobertada muitas vezes sob o manto do assistencialismo.
    É certo que impor ao outro aquilo que definimos como totalidade é dominação, é não se respeitar o outro, na sua alteridade. É não atribuir respeito àquele que se encontra em estado diferente. No entanto, em nossa sociedade o próprio outro não se respeita, não se valoriza enquanto diferente, que não só aceita a dominação acreditando que está atribuindo a si dignidade, como deseja fazer parte desse mundo da totalidade.
    A verdade é que valores como igualdade só são considerados quando convém. Só há valorização dos direitos humanos quando se precisa que existam, e quando não se carece deles ocorre a sua suspensão em prol do desenvolvimento econômico, do ganho, do lucro.
    O problema é que todos vêm na violência uma manifestação de poder, pois se entende que é através da violência que o homem domina o outro homem que está sob seu comando, mas isso não é poder, é a negação do poder. O poder que é inerente a qualquer comunidade política, resulta da capacidade humana para agir em conjunto. E esse agir em conjunto requer o consenso de muitos quanto a um curso comum de ação, ou seja, uma concordância de ideias, um consentimento comum de atitudes e ações.
    RESUMO DA ÓPERA: O POVO UNIDO EM TORNO DE UM IDEAL TEM O PODER DE MUDAR ESSE PAIS !!!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.